NO CAMPO DO SOBRENATURAL

Um dos mais conhecidos massagistas do futebol brasileiro assegurou a fama por ser pai-de-santo (DIVULGAÇÃO)
MORTE DE PAI SANTANA
30 de dezembro de 1937. Foi o dia em que se iniciou uma das maiores lendas do futebol brasileiro. A história virou título de livro do jornalista Mário Filho, que deu nome ao Maracanã. O “sapo de Arubinha” foi durante muitos anos, para alguns, a prova de que o sobrenatural tem poder de interferir neste mundo. Inclusive no futebol.

Era uma noite chuvosa. Vasco e Andaraí jogariam pelo Carioca, no campo do Fluminense. Em virtude da enxurrada, o time vascaíno se atrasou, mas o adversário, por cavalheirismo, preferiu esperá-lo a ganhar o jogo por WO. Ciente de sua condição técnica, o Andaraí pediu apenas uma contrapartida: que não perdesse por muitos gols. Sem piedade, porém, o Vasco enfiou uma goleada de 12 a 0.

Indignado, Arubinha, ponta-esquerda do Andaraí, ajoelhou-se e lançou uma praga: os vascaínos ficariam 12 anos sem conquistar títulos. O tempo foi passando e o Vasco começou a acreditar na mandinga. O gramado do estádio de São Januário chegou a ser escavado, à procura de um sapo que teria sido enterrado. Oito anos depois o tabu seria enfim quebrado, com a conquista do Carioca de 1945.

Mesmo no Vasco, fundado por imigrantes portugueses, de formação católica, sempre houve espaço para cultos religiosos afro-brasileiros. Não é à toa que um dos mais famosos massagistas do futebol nacional era mais conhecido por ser pai-de-santo. Eduardo Santana, o Pai Santana, chegou ao Vasco em 1953, quando a história do sapo de Arubinha ainda estava viva.

Entre alguns dos feitos do Vasco atribuídos ao pai-de-santo, que morreu esta semana, está o título do Carioca de 1977, garantido nos pênaltis contra o Flamengo. Conta-se que Pai Santana desceu de helicóptero na Gávea, para deixar um “trabalho” no campo do rival. Suas roupas brancas que envergava durante os jogos, estratégia ou não, metiam medo no adversário.

Neném Prancha, filósofo da bola da primeira metade do século passado, não acreditava nessas coisas. “Se macumba ganhasse jogo o Campeonato Baiano terminava sempre empatado”, foi uma de suas célebres frases. Ele pode ter razão. Mas é inegável que a macumba, termo pejorativo usado para se referir ao candomblé e à umbanda, teve papel significativo no futebol. Pai Santana é exemplo disso.

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